quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Nutrição e Psicologia


Nutrição e Psicologia: Construindo o mesmo cenário

A noção de que a saúde é um bem cuja conservação depende, antes de mais, do comportamento e empenho de cada um, está cada vez mais divulgada.

O comportamento alimentar é um dos aspectos do estilo de vida que, de forma incontestável, maior influência directa exerce na saúde das pessoas. Pelas suas características, o comportamento alimentar é também objecto de investigação através dos métodos da Psicologia. Daí, a pertinência da aplicação da Psicologia a este domínio visando não só a promoção da saúde, como também a prevenção e o tratamento de doenças.

Muito embora, hoje se compreenda que uma alimentação, que tenha em conta as necessidades do organismo e considere as propriedades preventivas de alguns nutrimentos, é um aspecto determinante de um estilo de vida saudável, isso não tem sido condição suficiente para que as pessoas assumam a sua responsabilidade na defesa da sua saúde e dos seus familiares. Como consequência, muitas doenças que fazem parte no nosso perfil epidemiológico em Cabo Verde estão associadas a hábitos adquiridos e o seu tratamento implica na adopção de novos comportamentos tanto de adultos como de crianças.

Optar por uma alimentação saudável não depende exclusivamente do acesso a uma informação nutricional adequada. A selecção de alimentos tem a ver com as preferências desenvolvidas relacionadas com o prazer associado ao sabor dos alimentos, as atitudes aprendidas desde muito cedo na família, e a outros factores psicológicos e sociais.

Impõe-se aqui a necessidade de compreender o processo de ingestão de alimentos do ponto de vista psicológico e sociocultural e conhecer as atitudes, crenças e outros factores psicossociais que influenciam este processo de decisão visando tornar mais eficazes as práticas educativas para a saúde e auxiliar as pessoas na mudança dos hábitos e os comportamentos.

Mas, certamente concorda que mudar não é tarefa fácil. As mudanças no estilo de vida não são fáceis de conseguir, pois interagem com outras situações da vida cotidiana como por exemplo a correria do dia-a-dia, ansiedade, e por vezes o difícil acesso a padrões de comportamento e de consumo mais favoráveis do ponto de vista da saúde. Tal facto também se aplica à alimentação, porém mais difícil ainda será manter tais mudanças. Adquirir e manter um novo comportamento requer mais esforço do que continuar com os velhos hábitos enraizados e associados a outros factores de ordem social e cultural.

O prazer que está associado ao sabor dos alimentos e o compromisso de mudar exercem grande importância no propósito da mudança para novos hábitos alimentares, porém muitas vezes prevalece o sabor nas nossas escolhas. Já diziam os antigos «perdoa o mal que se faz pelo bem». Ditado muito usado como argumento nas escolhas menos boas.  

Melhor seria conseguir uma harmonia entre o que gostamos e o que faz bem à nossa saúde. Talvez seja esse o nosso grande desafio para a implementação dos hábitos alimentares saudáveis.


Vanda Pires Oliveira – RP nº 15/2014
Psicóloga Clínica, especialista em Psicologia Hospitalar
v.pires07@gmail.com


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