Nutrição
e Psicologia: Construindo o mesmo cenário
A noção de que a saúde é um
bem cuja conservação depende, antes de mais, do comportamento e empenho de cada
um, está cada vez mais divulgada.
O comportamento alimentar é um
dos aspectos do estilo de vida que, de forma incontestável, maior influência
directa exerce na saúde das pessoas. Pelas suas características, o
comportamento alimentar é também objecto de investigação através dos métodos da
Psicologia. Daí, a pertinência da aplicação da Psicologia a este domínio
visando não só a promoção da saúde, como também a prevenção e o tratamento de
doenças.
Muito embora, hoje se
compreenda que uma alimentação, que tenha em conta as necessidades do organismo
e considere as propriedades preventivas de alguns nutrimentos, é um aspecto
determinante de um estilo de vida saudável, isso não tem sido condição
suficiente para que as pessoas assumam a sua responsabilidade na defesa da sua
saúde e dos seus familiares. Como consequência, muitas doenças que fazem parte
no nosso perfil epidemiológico em Cabo Verde estão associadas a hábitos
adquiridos e o seu tratamento implica na adopção de novos comportamentos tanto
de adultos como de crianças.
Optar por uma alimentação
saudável não depende exclusivamente do acesso a uma informação nutricional
adequada. A selecção de alimentos tem a ver com as preferências desenvolvidas
relacionadas com o prazer associado ao sabor dos alimentos, as atitudes aprendidas
desde muito cedo na família, e a outros factores psicológicos e sociais.
Impõe-se aqui a necessidade de
compreender o processo de ingestão de alimentos do ponto de vista psicológico e
sociocultural e conhecer as atitudes, crenças e outros factores psicossociais
que influenciam este processo de decisão visando tornar mais eficazes as práticas
educativas para a saúde e auxiliar as pessoas na mudança dos hábitos e os
comportamentos.
Mas, certamente concorda que mudar
não é tarefa fácil. As mudanças no estilo de
vida não são fáceis de conseguir, pois interagem com outras situações da vida
cotidiana como por exemplo a correria do dia-a-dia, ansiedade, e por vezes o difícil
acesso a padrões de comportamento e de consumo mais favoráveis do ponto de
vista da saúde. Tal facto também se aplica à alimentação, porém mais difícil
ainda será manter tais mudanças. Adquirir e manter um novo comportamento requer
mais esforço do que continuar com os velhos hábitos enraizados e associados a
outros factores de ordem social e cultural.
O prazer que está associado ao
sabor dos alimentos e o compromisso de mudar exercem grande importância no
propósito da mudança para novos hábitos alimentares, porém muitas vezes
prevalece o sabor nas nossas escolhas. Já diziam os antigos «perdoa o mal que se
faz pelo bem». Ditado muito usado como argumento nas escolhas menos boas.
Melhor seria conseguir uma harmonia
entre o que gostamos e o que faz bem à nossa saúde. Talvez seja esse o nosso
grande desafio para a implementação dos hábitos alimentares saudáveis.
Vanda Pires Oliveira – RP nº
15/2014
Psicóloga Clínica,
especialista em Psicologia Hospitalar
v.pires07@gmail.com
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